Opinião: Marcos Leite | Pensamento coletivo
Por Jornal Fórum
Publicado em 18/06/2025 15:10 • Atualizado 18/06/2025 15:17
Opinião

 

Parece mentira que no encerrar do primeiro quarto deste século as pessoas ainda insistam em viver o lado utilitarista da existência. É inacreditável saber que as pessoas acordam e vão dormir sem pensar umas nas outras, com raras exceções, para não se cometer injustiça. Quanta ingratidão anda por aí, a preencher o espaço dos nossos dias. Pior, não paramos para pensar a respeito de qual seria a nossa parcela de culpa neste mundo doentio que estamos a viver. 

Segundo a ciência já comprovou, muitos materiais possuem uma espécie de modelo matemático perfeito, capaz de reproduzir formas de modo infinito. Algo como o ADN das coisas. Está presente no cristal de gelo, no formato das frutas, no crescimento das árvores e até mesmo nas ondas do mar. É o que chamamos de fractal. Segundo o Doutor Google, um fractal é uma figura geométrica ou objeto matemático com estruturas que se repetem em diferentes escalas, em que a forma do objeto é semelhante as suas partes menores, criando uma «auto-semelhança». 

Ao mesmo tempo, pertencemos à uma espécie animal que se sabe, é dotada de um corpo, de uma alma e, diferentemente dos demais seres vivos, temos inteligência. É a faculdade de pensar que nos torna assim, seres dotados de ideias, pensamentos, que por sua vez provocam atitudes e vontades. E por termos essa particularidade – a capacidade de pensar – passamos, sem perceber, boa parte do nosso tempo assim, a pensar. Segundo algumas pesquisas, num único dia, chegamos a ter entre sessenta mil e noventa mil pensamentos. 

Quando estamos acordados e conscientes, somos também capazes de organizarmos e controlarmos nossos pensamentos. Utilizamos uma régua de valores pessoais para discernirmos o que é correto daquilo que não é. Por consequência, como já dizia Freud com os estudos da psicanálise, reprimimos os pensamentos que mostram-se inadequados ao nosso padrão de inteligência, o que explica a desordem dos nossos sonhos. Mesmo a dormir não deixamos de pensar, o que permite-nos sonhar e esquecer a tal regra do juízo e da repessão dos pensamentos. 

Agora, se somos parte de toda essa natureza, se passamos os dias a consumir informações e estímulos que balizam e conduzem os nossos pensamentos, será que não criamos uma espécie de psicosfera mental coletiva? Haveria, portanto, uma espécie de fractal de pensamento? Um padrão no qual, por meio da cultura, dos costumes, da moral e da educação criamos mecanismos de repressão e repetição de pensamentos. 

Se assim for, se tivermos essa capacidade de pensar coletivamente em determinados assuntos, visualizarmos certas imagens e por consequência vibrarmos intelectualmente em um sentido comum, é possível que estajamos a adotar uma espécie de fractal psicológico. Como consequência, a soma de todos esses pensamentos humanos poderia ocasionar um padrão vibratório global, considerando que vivemos em um tempo de total conexão com outros cantos do nosso redondo planeta. 

Então, se assumirmos que essas premissas são verdadeiras, somos sim, seres que influenciam e, principalmente, que sofrem influência dos padrões de pensamento repetitivo da coletividade. Mesmo tendo a capacidade de discernir, ainda assim, sofremos a influência de todas as atitudes que decorrem da soma do pensamento de todas as pessoas. É claro, se «pensarmos» desta forma, poderemos até mesmo enlouquecer, mas é sempre bom refletir a esse respeito. 

Neste exercício, nesta pausa para reflexão, como será que cada um de nós descreveria o mundo ao nosso redor? Partindo da casa em que habitamos. O que pensam os nossos familiares? O que consumimos? O que reprimimos, mas não deixamos de pensar? Saindo de casa, como descreveríamos a nossa cidade, o nosso país e o mundo em que vivemos a nossa experiência terrena? Por certo, se fôssemos transformar isso em imagens, música ou outra expressão de arte, o resultado não seria tão agradável.  

E se olharmos o passado, seríamos capazes de dizer que hoje pensamos melhor do que outrora? O mundo hoje, está melhor ou pior do que há vinte e cinco anos? E se insistirmos nessa ideia de que a sociedade cria esses padrões vibratórios decorrentes da soma dos pensamentos de toda a gente, como descreveríamos o nosso mundo para daqui a vinte e cinco anos? 

Todo esse «pensamento» pode parecer loucura, não? Mas e se for verdade ou, digamos, possível? Teríamos nós a condição de, como um grão de mostarda, impactar no padrão vibratório da humanidade? Neste raciocínio, somos responsáveis ou não por tudo de bom e de ruim que está a passar o nosso planeta? Por óbvio, há muitos que irão rir, desdenhar ou simplesmente ignorar essa possibilidade. Mas como disse no princípio, somos seres capazes de pensar. Então pensemos: qual a minha parcela de culpa nesse latifúndio de crueldade e falta de misericórdia por que estamos a passar? Será que estamos reprimindo a essência da nossa criação? 

 

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