Há que se ter muito cuidado na forma como usamos as palavras. Na forma e no contexto. E se tem um assunto que incomoda-me profundamente, são os contornos dessa terceira guerra mundial. Volta e meia, por mais que procure outros assuntos para escrever, sinto-me na obrigação de voltar ao tema, quase como um exercício de penitência. É impossível ficar indiferente diante do que acontece. Mesmo assim, é preciso muita cautela na hora de escrever.
E já que o tema dessa coluna é o «genocídio», divido com os leitores o conceito descrito na página da «Enciclopédia do Holocausto». Lá está dito, desde 1948, que se trata de um crime reconhecido internacionalmente, decorrente de “atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. De acordo com a publicação, o termo foi criado pelo advogado polonês Raphael Lemkin, de descendência judaica, e foi utilizado pela primeira vez no livro que escreveu em 1944, Axis Rule in Occupied Europe. Na tradução livre, «a regra do eixo na ocupação europeia», sem esquecer que «o eixo» eram as nações que apoiavam o nazismo (Alemanha, Itália e Japão).
Diante do que está acontecendo em Gaza, no Irão e no entorno do Estado de Israel, lugar onde se perpetuam grupos extremistas, não é possível tapar os olhos e dizer que não há genocídio. Na opinião de alguém que vê tudo de longe, percebe-se a existência de atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como diz o conceito acima. Para alguém que já viveu mais de meio século, é importante lembrar às novas gerações que a perseguição aos judeus (o ódio para com aquele povo) sempre existiu, tanto quanto a divisão do território palestino ao final da Segunda Guerra Mundial. Terminado o holocausto, grupos extremistas sempre atacaram o povo judeu com extrema violência. Portanto, nada disso é novidade.
Toda a manifestação legítima e que busque a paz em tempos de guerra merece ser louvada. No entanto, quando se assume apoiar um dos lados, acaba-se apoiando a guerra. O lamentável desfecho da tentativa de ajuda humanitária que seguiu para Gaza, também precisa ser reconhecido como algo belo diante de tanta tragédia, em que pese os lenços no pescoço. No entanto, soa infantil que um grupo de jovens, eivados do mais puro sentimento humanitário, queira adentrar numa seara de conflito tão complicada, da qual nem o novo Papa ousou fazer.
Sejamos sinceros! Se nem a ONU consegue ajudar, não seria um grupo de ativistas a conseguir. Não parece lógico? Mesmo assim, há muitos outros locais no planeta que também precisam de ajuda humanitária. Neste tempo em que a exposição nas redes sociais cativa muitos e muitos jovens, seria importante que essas ajudas pudessem chegar a determinados sítios africanos ou mesmo ao Irão, país acostumado a tratar as mulheres de um jeito que a civilização ocidental não consegue aceitar.
Infelizmente, nos conflitos que envolvem o Estado de Israel, a paz não será conquistada em um curto espaço de tempo. São séculos de contestação, teimosia e violência. É triste ter de reconhecer que Israel só vai parar de atacar esses povos quando voltar a se sentir seguro. Até lá, muitos erros serão cometidos, muita gente inocente vai continuar perdendo a vida e muita tristeza será derramada sobre o nosso planeta, como há tempos vem acontecendo.
