Reportagem: Teresa Inácio | WOOL coloca a Covilhã no mapa cultural português
Uma cidade que se pinta de futuro
Por Jornal Fórum
Publicado em 24/07/2025 10:33 • Atualizado 24/07/2025 10:36
Cultura

A Covilhã voltou a ser palco de uma celebração vibrante da arte urbana com a 12.ª edição do WOOL – Festival de Arte Urbana da Covilhã, que decorreu ao longo de nove dias, reunindo artistas, voluntários, habitantes e visitantes em torno da criação artística e da valorização do espaço público. Este festival, pioneiro no panorama da arte urbana em Portugal, reafirma a sua importância como motor de descentralização cultural e como catalisador da identidade criativa da região.

  

 

 

Uma semana de arte, comunidade e expressão

Nesta edição de 2025, o WOOL afirmou-se como um evento de referência nacional, oferecendo à cidade seis novos murais e duas instalações artísticas permanentes. A programação contou com a participação de inúmeros artistas, portugueses e internacionais, bem como o envolvimento direto de 8 voluntários e com cerca de 56 parceiros; entre residentes e visitantes, somaram-se milhares de presenças.

WOOL envolveu a população em mais de 40 atividades, desde cinema ao ar livre, a criação da sala WOOL no Museu da Covilhã, no qual se preserva agora uma exposição permanente, várias visitas orientadas e guiadas, ações de capacitação, pequenos concertos ao ar livre, residências artísticas, comes e bebes, masterclasses e não só.

  

A diversidade de estilos, técnicas e linguagens artísticas refletiu o espírito inclusivo e inovador do festival. As ruas da Covilhã tornaram-se novamente uma galeria a céu aberto, onde cada obra embeleza, mas acima de tudo provoca reflexão, debate, diálogo e pertença, tal como a arte promete reger.

  

 

Artistas e obras que marcam a cidade

Desta 12ª edição, resultam alguns murais, como o dos Boa Mistura (ES), Lidia Cao (ES), Stelios Pupet (GRE), Lígia Fernandes (PT) e as instalações de Ampparito (ES).

As suas obras abordaram temas como a identidade local, a memória industrial, a justiça social e a ligação com a natureza, numa linguagem visual acessível e envolvente, e muito importante também, a presença da memória no bem coletivo e da necessidade de registo do que não volta mais; como o caso da requalificação de um portão de uma antiga fábrica da cidade, intitulado Verde Memória, pela dupla espanhola Ampparito; trata-se de um portão coberto por seis tonalidades de verde, variedade esta proveniente de diversos relatos de antigos funcionários da fábrica acerca da tonalidade original do portão. “Cada verde pertence à sua pessoa.” – explica Lara Rodrigues.

 

 

 

Um apelo à memória, à personalização do esquecido e a criação de uma mensagem forte e impactante.

O festival reforça também a presença feminina e, por isso, este ano, Lidia Cao, artista Galega, junto da Universidade da Beira Interior, na sua obra reforçou o papel da mulher, inspirada no pintor Eduardo Malta, nascido na cidade da Covilhã.

Lígia Fernandes, deixou na cidade 3 novos murais que provocam e instigam a mente, transmitindo a mensagem do abandono das ruas pelas crianças que agora se refugiam nos ecrãs, ora: Aí vai lenha, Corrida com arcos e as Escondidas. Os murais permitiram os diálogos entre gerações e o debate sobre o paradeiro atual das crianças. 

São murais que podem ser encontrados na zona história da cidade, e gravam na sua história a colaboração de várias pessoas e várias mãos interessadas em deixar a sua pequena marca e assinatura na elaboração da vida dada a estas paredes. 

As instalações interativas nos demais espaços públicos convidaram à participação ativa da comunidade e refletiram preocupações contemporâneas urgentes. As mensagens foram fortes e impactantes, como a mais marcante pelos Boa Mistura, um coletivo reconhecido mundialmente pelos seus projetos de construção comunitária.

 

O coletivo espanhol criou um mural com mais de 450 metros quadrados de dimensão com a palavra AMOR, escrita várias vezes sobre ela mesma. A mensagem dos artistas apela à urgência deste sentimento no quotidiano atual e tal como referido pelos artistas, 

“Estamos a precisar de amor no mundo inteiro!” – Citado por Lara Rodrigues.

Cada mural é mais do que uma imagem, é um gesto simbólico de valorização do território e das pessoas que o habitam.

 

 

 

Uma iniciativa com propósito

O nome WOOL surge como uma homenagem e uma valiosa recordação da cidade onde o festival nasceu, evocando a sua memória e destacando a singularidade da lã, elemento simbólico e identitário do projeto.

WOOL é um projeto de vida da organização, fundado em 2011 por Lara Seixo Rodrigues, natural da Covilhã. Nasceu da vontade de levar a cultura para o interior do país, contrariando a centralização artística nas grandes cidades e incentivando a reabilitação do espaço urbano, nomeadamente o centro histórico da cidade da Covilhã. Era também uma prioridade desenvolver e incentivar o interesse da comunidade pela arte e por isso, o festival assume-se como um manifesto artístico e social, promovendo o acesso à cultura, a requalificação urbana e a coesão comunitária.

  

  

 

 

“Tudo o que se sentiu em tudo, foi Amor.” - Lara Rodrigues

Desde a sua criação, o WOOL tem vindo a afirmar-se como um ponto de encontro entre artistas e cidadãos, promovendo o diálogo entre o passado industrial da Covilhã e o seu futuro criativo. Criou-se um marco na cidade de passagem obrigatória, deixando a Covilhã de ser vista, não só como uma passagem para a serra, mas também como um complemento ao que a cidade tem para oferecer também. “Esta oferta cultural só engrandece a cidade”, refere Lara Rodrigues. 

A cidade neve transforma-se num verdadeiro laboratório de cultura urbana, onde cada parede ganha voz e cada obra inspira novas formas de pensar e viver o espaço público.

  

“Queremos chegar a toda a gente, não temos um público-alvo”, explica Lara Rodrigues.

Com o intuito de mostrar que a criatividade está ao alcance de absolutamente todos, o WOOL +, arte urbana mais acessível, surge em 2023/24; desenhado com um projeto específico dedicado a pessoas com algumas condições especiais. Na sua base e, no segmento de lançar um alerta à sociedade, de que são pessoas que também merecem participar, estar presentes, criar e fazer parte de uma vida cultural ativa. 

Um legado duradouro

Para finalizar uma semana incrível, o fecho do festival foi marcado com um almoço comunitário, onde por fim, se desvendou Todos Somos o Outro, um enorme tapete feito por mais de mil mãos.

O crescimento deste festival não tem sido linear, mas através da comunidade, o WOOL é hoje um símbolo da arte urbana em Portugal. Hoje, é um roteiro com mais de 100 peças, com imensas ligações, é uma construção em malha urbana no qual se coloca arte na rua.

“E, hoje, o WOOL não é só o festival de arte urbana mais antigo de Portugal, é dos poucos que persiste na verdade, é o único de uma iniciativa privada que existe, mas que tem um modelo de financiamento peculiar; empresas locais, nacionais e entidades multinacionais; ora empresas de cariz turístico, social e cultural; e sem uma delas, não se faz.” – garante Lara Rodrigues 

 Mais do que um festival, o WOOL é hoje um símbolo de resiliência, de criatividade coletiva e de pertença.

 

 

 

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