Grande Entrevista: Luciana Leitão | “Os covilhanenses têm de fazer uma reflexão do que foram os últimos quatro anos”
A candidata do Chega à Câmara Municipal da Covilhã traça nesta entrevista os objetivos da sua candidatura
Por Jornal Fórum
Publicado em 08/10/2025 08:27
Entrevista

É com motivação que encara este desafio? 

Sim, é com motivação que abraço este projeto, porque sinto com a população com quem eu tenho me relacionado e ouvido, muito descontentamento. Da situação atual que se vive não só na cidade, mas nas freguesias anexas. E tudo o que seja em prol de uma mudança para melhor a vida da população, eu estou incluída e estou disponível a ajudar a fazer essa mudança.  

 

Se for eleita Presidente da Câmara Municipal da Covilhã, fará uma auditoria às contas do município e também às empresas municipais? 

O nosso compromisso, no caso de sermos eleitos, é realizar uma auditoria à Câmara Municipal, porque queremos garantir que todo o dinheiro público está a ser bem gerido e as decisões de investimento também passam por ter conhecimento nesse sentido. Neste momento, a auditoria é prevista apenas à Câmara e não ao município na totalidade. O objetivo principal é dar transparência, confiança à população sobre a gestão da Câmara. 

 

E a questão do preço da água e da fatura da mesma que tanto incomoda as pessoas do concelho da Covilhã, é algo que a preocupa? 

Preocupa, claro que também pago, pagamos todos. Acho que é o concelho com a água mais elevada e faz sentido ser uma das medidas a pôr em prática. No entanto, a Câmara da Covilhã, enquanto concedente do serviço de água e de saneamento, não define diretamente os preços, mas tem um papel ativo que quer garantir as tarifas justas. E temos de negociar com a empresa gestora, investir também na redução de perdas de eficiência da rede e criar programas sociais para famílias e empresas. É o nosso objetivo é que a água seja acessível e que a qualidade chegue a todos. O preço médio anual da água é de 660€ por um consumo de 180 m², segundo a DECO PROteste. E temos de ter medidas para reduzir o preço da água. Então, temos de fazer uma revisão aos tarifários, trabalhar com a Águas da Covilhã para rever os tarifários e torná-los mais justos e acessíveis a toda a população. 

Também queremos investir infraestruturas para reduzir, como já disse, perdas de água e melhorar a eficiência do sistema, porque há muito perda de água, há desperdício. Queremos implementar programas de apoio a famílias com baixos rendimentos para ajudá-las a pagar as contas da água. Reforçando aqui também o abastecimento, realizar obras de reforço de abastecimento de água como uma ampliação da rede de águas de resíduos fluviais. A construção da nova barragem, que há tanto que se fala nela e o projeto aprovado e ainda não temos. Até a título da situação trágica que assolou aqui a zona, com os incêndios, a barragem também era muito importante que estivesse já concluída. Queremos requalificar as ruas com a melhor infraestrutura de água e saneamento com obras na rua do Coutinho, rua da Quelha, do Teixoso. Sustentabilidade e eficiência são os passos para as nossas medidas e para que consigamos aqui melhorar a qualidade de vida a nível de preços de água, porque fazendo a recolha dos desperdícios da água, temos aqui um aproveitamento que mexe com muita coisa. 

 

Infraestruturas e obras públicas. A Covilhã está bem servida no que toca a este assunto ou precisa de mais alguma coisa? 

Se estivesse bem servida, eu se calhar não me tinha candidatado. 

Cada um tem seu método de trabalho, cada um tem a sua visão, mas eu entendi que, como já referi, há um descontentamento por parte da população. Então, nós temos um plano de investimento para modernizar a Covilhã, na requalificação das ruas, dos espaços públicos, da iluminação, como eu já referi, a manutenção de redes essenciais, podemos tornar a cidade mais segura, mais moderna, mais atrativa. 

 

Que propostas traz o Chega para a questão da mobilidade e dos transportes? 

Na parte mobilidade e transportes, nós pretendemos reestruturar os transportes públicos. É necessário rever horários e as rotas em vigor, analisar as falhas e providenciar opções que possam satisfazer as necessidades da população, visto que, tenho tido conhecimento de que nem sempre os horários de transportes públicos coincidem com os horários de trabalho, principalmente quem trabalha por turnos. Será uma das medidas para o imediato, a revisão desta situação.  

Pretendemos ainda concorrer a fundos governamentais europeus para suportar um objetivo que nós temos mais para longo prazo, que é disponibilizar transporte gratuito à população do concelho, mas, como já referi, vai depender um bocadinho do apoio que vamos ter por parte da União Europeia. Vamos começar por grupos, apoiando os grupos com mais necessidade.  

Somos apologistas da transição verde, os acessos na cidade podem ser feitos com autocarros elétricos. As estradas e a pavimentação são uma prioridade, sobretudo as que estão em mau estado de degradação, garantindo também sempre a fiscalização da qualidade das obras. Queremos requalificar os passeios degredados, incluindo também nos passeios rampas para pessoas com mobilidade reduzida e para os carrinhos de bebé.  

Quanto aos elevadores já existentes, nós queremos assegurar a manutenção. De facto, é fundamental este aspeto porque temos uma cidade de colina, pretendemos ainda estender esta solução de mobilidade com novos elevadores ou até mesmo umas escadas mecânicas onde o declive se justifique. A Covilhã precisa de uma mobilidade que una as pessoas, não que as afaste. Não é só uma questão de transporte. Tudo isto faz parte de valorizar a cidade, de tornar a cidade mais inclusiva, mais atrativa para viver.  

 

No que toca à segurança, a Covilhã é um concelho seguro ou é preciso fazer mais? 

A segurança é um tema muito sensível, precisamos de fazer mais. Tem havido algumas ocorrências. Mas antes de a situação evoluir, temos de agir precocemente para prevenir. As nossas medidas passam por reforçar o policiamento em zonas de maior movimento, como as escolas, as áreas comerciais, etc. Pretendemos também implementar para o imediato 50 câmaras de vigilância em pontos estratégicos. A iluminação na cidade é também um ponto crucial, temos zonas da Covilhã muito escuras. Acho que estes são pontos fundamentais para precocemente evitar situações que venham a complicar no futuro. 

A questão da iluminação faz toda a diferença. E não é dizer que as certas zonas não têm luz. Têm luz, mas a luz não é suficiente. É preciso mudar ali o sistema de iluminação de forma que haja boa visibilidade e mais segurança, porque nós ao passarmos numa rua, se virmos a rua bem iluminada, vamos muito mais tranquilos do que se passarmos num sítio onde está uma zona escura. 

 

No que toca à questão dos incêndios que assolaram o concelho no mês passado, qual é a sua opinião sobre o tema? E a sua opinião sobre um aumento das penas para os incendiários? 

Para mim, cada incendiário é um criminoso, mata a natureza. Afeta pessoas, como infelizmente perdemos um bombeiro que tem família, logo também mata, são pessoas que perdem vidas, são pessoas que têm o seu cultivo, o seu cantinho, a sua fonte de rendimento. Pessoas cujas suas coisas arderam, ficaram sem nada. Para mim, quem provoca um incêndio é sem dúvida um criminoso e deveria sim ser preso e com medidas mais elevadas. Agora, quanto às nossas medidas eu acho que também há aqui um trabalho de prevenção, porque isto tem sido repetitivo, anualmente os incêndios têm aqui assolado a nossa zona e havendo prevenção, se a nossa floresta, a nossa serra estiver limpa, mais dificilmente se propaga o incêndio desta dimensão. Tem de haver medidas também nesse sentido.  

Nós temos que fiscalizar o trabalho feito pelos sapadores, criar equipas municipais dedicadas à permanência nas serras. Antigamente tínhamos os guardas-florestais, que ainda em miúda, lembro-me que os guardas-florestais faziam um bom trabalho. Tinham as casas de guarda, limpavam as serras e não se via a desgraça que se tem visto atualmente. Então, eu acho que esse trabalho tem de ser feito, tem que ser feito no inverno e primavera para que quando chegue o verão as florestas estejam limpas e que não haja probabilidade de haver as tragédias que tem havido.  

Mas também temos aqui umas medidas quer seja na sensibilização, fazer campanha nas escolas em relação aos incêndios e outros temas fundamentais na região. Fazer entender logo desde cedo às crianças os perigos e os cuidados que devem ter. Pretendemos também anualmente fazer um plano municipal anual de limpeza das matas, caminhos e faixas de proteção. Ao contrário de aplicar multas, porque sabemos que há pessoas reformadas com 200, 300€ de reforma e que são obrigados a limpar os terrenos que eles já não têm saúde para limpar ou que não têm condições financeiras para tal. Não é aplicar uma multa que vai resolver a situação, vai piorar é a situação em si. Então aqui o que nós queremos fazer é apoiar os proprietários para que mantenham os terrenos limpos. É uma medida que estamos a analisar, quais as formas que temos para apoiar, saber quais os terrenos e através de uma triagem que vamos fazer, priorizar as pessoas que têm reformas mais baixas, estas têm que ter a nossa ajuda para a manutenção dos terrenos que estão por limpar.  

Queremos requalificar caminhos florestas, de forma que permita um acesso rápido aos bombeiros. Queremos também instalar depósitos de água em pontos estratégicos, para em caso de incêndio, a recolha seja de forma mais rápida e eficaz para o combate. Queremos ainda colocar torres de observação equipadas com tecnologia para detenção precoce. Também em parceria com a Universidade da Beira Interior, queremos ver a possibilidade de colocar drones a monitorizarem a serra. Acho que as novas tecnologias são muito eficazes para a prevenção dos incêndios. 

 

Que estratégias propõe para fixar jovens na Covilhã e criar condições para que encontrem aqui oportunidades de futuro, em vez de saírem para outras cidades? 

A fixação de jovens tem muito a ver com o emprego. Não havendo emprego, é logo o ponto principal para a saída. E nós neste âmbito queremos incentivar a fixação de novas empresas. Queremos fixar novas empresas para darem oportunidade a quem acaba os seus cursos de formação na UBI, tenha aqui uma forma de ficar a trabalhar cá, porque principalmente quem é da zona, sente-se muito mais confortável ficar na sua terra natal. 

Então, queremos fixar novas empresas, queremos apoiar os jovens também a desenvolver o seu negócio e a reinventarem a parte têxtil tradicional, o design, tecnologia, sustentabilidade, é o modo de fazer circular também toda a nossa marca da Covilhã e apoiar jovens também a crescerem e a desenvolverem o seu negócio cá. Sendo uma cidade mais atrativa, certamente que as empresas também se cediam mais aqui, porque nós no interior ainda assim os preços de terrenos e de espaços para empresas são mais flexíveis do que se forem procurar em Lisboa, Coimbra, Porto. Precisamos é de movimentar mais a cidade, fazê-la crescer e modernizar, para que também os investidores queiram optar pela nossa Covilhã. Daí também querermos falar num ponto que é muito importante: a lã, que hoje ninguém comporta o negócio, há produtores, e eu conheço um deles, que não tem forma de escoar o produto. E pode-se criar, através de parcerias com a UBI, formas de escoar. Os estudantes podem criar aqui formas de desenvolver projetos, de forma a utilizarem a lã para vários projetos, para esta lã ter utilidade. 

Queremos ainda também incentivar o turismo à Serra da Estrela, porque a Serra da Estrela, no nosso ponto de vista, é uma parte turística presente na altura da neve, mas fora da neve, não tem grande atração. Não há grandes atividades e por isso, queremos apoiar também na criação de desportes de montanha, como por exemplo o parapente, caminhadas guiadas, jogos tradicionais de montanha, mini-trilhos, entre outros. A nossa serra tem um potencial enorme, é preciso gerar turismo também em todas as estações e não só apenas na altura da neve. Portanto, há aqui um conjunto de medidas que temos de fazer de forma a fixar os jovens. Ampliando o turismo, já há mais emprego, maior fixação de empresas, gera mais emprego também. Apoiar os jovens a desenvolver os seus negócios também já dá oportunidade de emprego.  

 

 

E o que defende para a Cultura aqui no concelho? 

Na área cultural a Covilhã é uma cidade histórica. De arte e de futuro, mas a cultura não pode ser apenas fechada em salas ou em museus e tem de estar viva também nas ruas, nos bairros e não só na cidade, mas também nas freguesias. Queremos reabilitar edifícios devolutos para a comunidade, para apoiar novos artistas, levar concertos, teatros, valorizar o que torna único a cidade, como, por exemplo, a lã, a indústria, as tradições criativas à população. Queremos apostar também em festas e feiras temáticas que mostram também a nossa gastronomia, que é muito conhecida e muito bem aplaudida. Reforçar também a educação artística nas escolas, que é muito importante, em parceria com a Universidade da Beira Interior. Organizar cinemas ao ar livre, teatro de rua, promover roteiros, culturas, tradições locais, em parceria com as escolas e com as associações. Quanto ao teatro municipal, foi de facto alvo de um grande investimento e hoje o espaço tem condições técnicas muito boas, mas precisamos de garantir que este equipamento vive todo todos os dias e chega a toda a população. Então nós queremos criar um programa diversificado com música, teatro, cinema, abrindo as portas também a escolas e às associações culturais em que a Universidade possa também ter o espaço para formação de oficinas, ensaios. Pretendemos ainda trazer artistas humoristas, peças de teatro, espetáculos variados para que as famílias e amigos tenham sempre atividades culturais na cidade, sem precisarem de sair da Covilhã.  

Mas, a cultura não deve ser apenas concentrada na Covilhã. Temos as freguesias, como já referi, que pretendemos trabalhar em conjunto com as juntas de freguesia para que cada aldeia volte a ter a vida cultural própria, porque se foi perdendo as tradições e o que nós propomos é apoiar as juntas para recuperar essa mesma dinâmica que havia há muitos anos atrás, apoiar nas festas populares e noutros eventos para que as pessoas se reencontrem através da cultura. 

 

A Covilhã, necessita de mais espaços verdes? 

O Tortosendo precisa certamente, o Canhoso, estas populações e estas freguesias com maior população são as que não têm, acho que estas localidades estão a precisar mesmo espaços verdes. Temos aqui algumas localidades que até já estão bem exploradas, como a Paul, Verdelhos. A Covilhã tem alguns espaços verdes, tem o jardim público, o jardim do lago, o jardim botânico, o Parque do Goldra. O importante é perceber se o espaço verde está a ser bem aproveitado pela população ou não. No meu entender, e segundo algum feedback que tenho tido dos populares, é que não têm atividade. Daí também nas nossas medidas, querermos torná-los mais apelativos à população, desenvolver atividades circuitos de desporto, zonas de piquenique, colocar parque infantil, organizar atividades comunitárias, tornando estes locais mais dinâmicos e úteis para todos, porque os espaços pouco têm para oferecer, tem a zona verde, mas não está muito desenvolvido a nível de atividades 

 

Por fim, que mensagem gostaria de deixar a todos os covilhanenses? 

A mensagem que eu tenho a dar é que estamos numa altura em que é preciso fazer uma reflexão, embora eu tenha sentido que é uma análise fácil de conseguir porque eu tenho ouvido o descontentamento na rua, não é? Mas de qualquer modo acho que tem de ser feita uma reflexão. E essa reflexão tem de se basear no que tem sido feito nestes anos, se queremos manter a situação como tem estado nos últimos anos ou se queremos realmente fazer a mudança. E é essa mensagem que eu quero passar é curta e breve. Vamos mudar para uma Covilhã melhor ou vamos manter nos próximos quatro anos o mesmo que temos mantido aqui ao longo destes últimos anos? É a altura de refletir.  

 

DESTAQUE// 

«As nossas medidas na área da segurança, passam por reforçar o policiamento em zonas de maior movimento, como as escolas, as áreas comerciais, etc. Pretendemos também implementar para o imediato 50 câmaras de vigilância em pontos estratégicos» 

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