Opinião: José Avelino Gonçalves | O Arquivo do Tribunal da Covilhã
O Don Juan do Tortosendo – 1.ª parte
Por Jornal Fórum
Publicado em 20/11/2025 10:37
Opinião

“Basta de dilação. Quem se reputa inocente deixa-se altivamente julgar. Não sacode tanta lepra em papel selado”. 

O Dr. José Almeida Eusébio nunca vira igual. Os autos engordavam. Onze volumes de erudição. Passam oito anos. 

Recuemos. Vamos à “estória”. 

Tortosendo, Agosto de 1907. 

O João Pereira Mineiro saboreia um charuto enquanto passa os olhos pelo jornal. A imprensa da Covilhã dá eco do terrível incêndio que destruiu o casario da rua António Augusto Aguiar. Aí perderam a vida três pessoas. César da Costa e sua mulher são os suspeitos. São presos. O Costa tenta o suicídio. Conhecido pelo caso da Mineira. 

Nunca mais chegam as 5 horas. 

Um sujeito com trinta e poucos anos. Frágil nas coisas do coração. Conversava-as. Posto que não fosse bonito, seduzia-as. Um músico e um criador de poemetas. Elas dobravam-se ao seu charme. Chegou a levar pancada de maridos ciumentos. Desde que a viu na botica, deixou-se avassalar da tentação. Bonita, lábios tentadores, dada. 

O escrivão do julgado de paz fecha as portas. Sente-se um adolescente. O coração bate acelerado. Desce a rua da vila. O dia está calmo, espirituoso, agradável para o amor. Entra na pequena loja de bairro. Apenas uma cliente. A Purificação quando o vê, tem uns assomos de doidice. Trocam o primeiro beijo, as primeiras juras de amor. Dedica-lhe uns versos: 

 “Quem és ó pomba, quem és tu ó sereia?/Acuso a felicidade és tu, mulher?/Ou és um anjo que em teu seio albergas/O sonho augusto que a minh´alma quer?/Quem és, que n´esta hora derradeira vem dar a mão ao pobre, ao infeliz? És Deus? És anjo? Ou és um emissário de ceo? Quero escutar-te!...Falla … diz… .  

A Maria da Purificação quer fugir com ele. Para longe, só os dois. Que não pode viver sem ele. Tem apenas 16 anos. Uma inocente.Trata-a por Flávia nas suas cartas carregadas de perfume e de paixão.  

Creança bella, creança formosa. Flavia amada.Flavia tão querida.Tu és a minha estrella venturosa. Tu és creança, a minha própria vida. 

A família desconfia da paixão. Controlam a Purificação. 

Combinam mais um encontro. “Logo vou ao Penedo das Saudades, à hora do costume. Sempre posso ir logo à Quelha? E levas o tal penteado? Escreve disfarçadamente numa pauta de música. 

A mãe encontra os bilhetes. É o diabo. Confessa-lhe o que havia. É castigada e impedida de sair de casa. Tenta o suicídio. Bebe um veneno. O médico da família é chamado de madrugada. Salva-a. 

Avisa o amado para se acautelar. Pretendem fazer-lhe uma espera traiçoeira. 

 O João Mineiro faz confidências com o seu grande amigo. Sofre de amor. 

“Tu sabes bem conquanta santidade eu amo a Flavia. Calcula o meu desespero ao ouvir de vez em quando umas referências torpes à nossa mútua afeição, a maior parte das quaes, sahidas da própria família! Isto é atroz!.. 

(continua)   

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