Opinião: Miguel M. Riscado | Em Memória do Pe. José Dionísio
Por Jornal Fórum
Publicado em 28/09/2025 03:58
Opinião

Foi para casa do Pai, no passado dia 13 de Setembro, o Pe. José Dionísio. Vítima de doença prolongada, terminou o seu sofrimento nesse dia. Sofrimento físico, acrescente-se. O sofrimento psicológico nunca (ou raríssimas vezes, como lembraria na homília das Exéquias o Bispo da Guarda, José Miguel Pereira) o assolou. Além de uma certeza esperançosa e permanente, vestia uma paz imensa no meio do tumulto que foram os seus últimos anos. Recusou abrandar e parar. Continuou a vida, o trabalho, o apoio à comunidade e o “fazer do bem” até à sua última hora.  

O (carinhosamente apelidado) Pe. Zé, não era pura e simplesmente um pároco. Primeiro que tudo era um individuo extremamente inteligente, nas suas várias vertentes, não apenas mentais, mas também culturais, como a sua guitarra prova, bem como perspicaz nas relações que cultivava, tentando sempre conciliar e intermediar quaisquer conflitos ou desentendimentos entre a sua segunda família — os seus fiéis. Mais: demonstrou, na totalidade das suas homílias, além de um conhecimento teórico, histórico, sistemático e teleológico, por isso pleno, das Escrituras, um sentido crítico e atento à realidade que experienciamos. Num tempo cinzento, sem certezas, apontou, subtilmente, os defeitos e as hipocrisias sociais, demonstrando, na sua graça imensa, as soluções para os grandes problemas: o amor, a proximidade, a amizade, a negação da indiferença. Contudo, não se bastou pelas palavras. Além da sua simpatia calorosa, procurou ajudar os mais necessitados a todo o tempo: os pobres, os deprimidos, os desamparados, os migrantes. Tirou tempo e acompanhou, com ações materiais e reais, estas vítimas da nossa sociedade. Fê-lo sempre pela calada. Não procurou os louros dos frutos que cultivava. A discrição e a preocupação marcavam o seu quotidiano. Até depois da sua partida manteve este ideal: negou as oferendas póstumas, as flores que murcham, pela partilha das oferendas, de novo, com os marginalizados. 

A espécie humana engana-se e distrai-se muitas vezes, esquecendo o mais importante não raras vezes. Não paramos para olhar para o lado, para sentir a tristeza do outro. Mas nas situações de extrema tristeza, mostramos, por vezes, uma união extraordinária. Na Missa de Exéquias e no Funeral do Pe. Zé, a moldura humana presente demonstrou a sua marca nas nossas vidas, não só na comunidade como um todo, mas individualmente em cada membro presente e que com ele lidou. Fomos pela família e por ele, mas também fomos por nós. Tentar ver, ouvir e falar sobre o que tínhamos vivido com o Pe. Zé, culminando num inorgânico, genuíno e natural aplauso à sua última passagem por todos nós. 

Deixo uma palavra de condolências à sua mãe e à restante família, com especial cuidado ao seu irmão, o Pe. Carlos, que, com coragem, postura e serenidade, dirigiu as celebrações da partida de seu irmão de sangue e de fé. Não conseguimos sequer imaginar o esforço necessário para o fazer com a reverência e solenidade demonstradas. Como disse São João, no final do seu Evangelho, muito mais haveria para dizer. Uma página e meia não chega para, com a exaustão devida e necessária, relatar a biografia do Pe. Zé — seguramente será feita, discutida e analisada, os testemunhos serão recolhidos e compilados. O Pe. Zé era humano e por isso partiu, mas a sua vida foi de tal forma Venerável, que só pode ser este o caminho na discussão da sua história. Esta já está inserida nos corações de quem com ele lidou; será, certamente, reconhecida eterna e publicamente 

Descanse em paz, amigo Pe. Dionísio. O meu muito obrigado por tudo. 

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