Opinião: Pires Manso | A preocupante evolução da população residente no concelho de Covilhã e sua trajetória recente: haverá esperança?
Por Jornal Fórum
Publicado em 13/11/2025 10:41
Opinião

O INE e Fundação Francisco Manuel dos Santos publicaram recentemente dados sobre os concelhos portugueses que é importante apreciar e que nos devem fazer meditar anos estudiosos e aos políticos nacionais, regionais e locais a quem compete governar-nos, seja a nível nacional, regional ou local (concelhos). A situação para grande parte do país profundo ou país interior é altamente preocupante com um cada vez menos jovens e uma cada vez maior quantidade de pessoas na terceira idade. Urge pôr cobro a esta situação para bem do país harmonioso que se pretende criar dotando as autarquias de recursos financeiros para atrais empresas que criem empregos que por sua vez fixem as populações às regiões e aos municípios. 

A população residente no concelho da Covilhã no final de 2024, segundo o INE e Fundação Francisco Manuel dos Santos, era de 46606 pessoas (p) divididas em 22356 homens (H) e 24.250 mulheres (M). O grupo maioritário era o dos ‘em idade ativa’ ou que tinham entre 15 e 64 anos (58.6% ou 27.331 pessoas), seguido dos com mais de 65 anos (31.1% ou 14478 p.) e por fim dos mais jovens, até aos 15 anos (10.3% ou 4.797 p.).  

No escalão ‘mais jovens’ (<15 anos) mais homens do que mulheres, embora com uma pequena diferença de 101 pessoas (diferença entre 2.449 H. e 2.348 M). Já nos dois outros as mulheres ultrapassam largamente os homens De facto, no intervalo 15-64 anos há mais mulheres, assim como no de mais de 65 anos (13.610 H e 13.721 M, diferença de 111 pessoas), já no do grupo dos mais de 65 há 6.297 H e 8.181 M, diferença de 1884. Esta diferença favorável às mulheres entre os menos jovens (>65 anos) é ditada, como é sabido, pela maior longevidade da mulher.  

 

De 2021 para 2024 a variação populacional foi positiva, mas de apenas +221 pessoas, o que dá um acréscimo percentual de 0.5%, quando a nível nacional ele foi de 3.2%. Por sua vez o saldo natural (diferença entre os que nascem e os que morrem) foi de -1.108 pessoas, sendo o saldo migratório diferença entre as saídas (emigrantes) e as entradas (imigrantes) foi de +1.329 pessoas. 

 

 

Comparando com alguns concelhos vizinhos da região das Beiras e Serra da Estrela (Beira Interior Norte e Cova da Beira) a Covilhã lidera com 61.084 habitantes residentes, seguido da Guarda com 50.761, do Fundão com 36.244, de Seia 29.006, de Gouveia 17.024, do Sabugal 16.193 pessoas, de Celorico da Beira 9.020, Belmonte 8.314 p., Almeida 8.153 p., Penamacor 6.874 p. e Manteigas 4.074 pessoas.  

 

 

Comparando a estrutura etária da população portuguesa com a covilhanense vê-se que com <15 anos são 1.359.489 pessoas ou 12.7% que comparam com as 4.797 p. ou 10.3% (-2.4% no concelho), os do intervalo 15-64 anos são 6.774.802 ou 63% que compara com os 27.331 ou 58.6%, logo -4.4% no concelho em termos relativos, e por fim, na faixa etária dos ‘menos jovens’ com mais de 65 anos, genericamente reformados ou pensionistas, no país são 2.615.344 ou 24.3%, enquanto no concelho serrano são 14.478 ou 31.1%, logo +6.8%. Em suma, na Covilhã há em termos relativos (%) menos jovens e menos pessoas em idade activa, mas mais terceira idade, uma conclusão que é comem a mais de 70% do território ou dos concelhos nacionais localizados no interior profundo. Estes dados traduzem um envelhecimento enorme e preocupante da Covilhã face à média do país onde “onde se fecham escolas primárias (ou do 1º ciclo por falta de alunos) e se abrem lares da terceira idade por excesso de pessoas maiores de 65 anos”, muitas vezes sem nenhum familiar a viver no local que lhes possa valer nalguma aflição de saúde. 

Passando agora à densidade populacional do concelho, i. é, ao número de habitantes por km2, vemos que na Covilhã - concelho ela é de 84 pessoas, um valor baixíssimo se comparado com a densidade média do país e com a densidade prevalecente nos anos 50 ou 60 do século passado, ou seja, antes da grande emigração para França e resto da Europa e do encerramento de grande parte das fábricas de lanifícios da Covilhã. Já o índice de envelhecimento (número de pessoas idosas da população por cada 100 pessoas jovens) ele aumentou de 2021 para 2024 pois passou de 2.86 no primeiro ano para os 3.02 no segundo, uma variação negativa ou no mau sentido de -0.16. Por sua vez o índice de sustentabilidade potencial, ou seja, a relação entre a população em idade ativa ou em idade de trabalhar e a população idosa, passou de 2.68 em 2021 para 1.97 em 2024 (-0.71), uma variação desfavorável ao concelho. Estas duas variações são ambas negativas, pois agravou-se o índice de envelhecimento e de sustentabilidade potencial. Seria bom vislumbrar-se alguma inversão, para melhor, da tendência de esvaziamento e envelhecimento concelhio que vem de trás. Para benchmark ou comparação refira-se que no país (Portugal) e em média, este mesmo índice passou de 2.68 para 2.59 (-0.09) uma variação também negativa que se explica igualmente pela redução da natalidade e do aumento da longevidade que se traduz num crescente envelhecimento também no País (ver figura seguinte).  

 

Em jeito de síntese, podemos dizer que estes valores confirmam o que atrás se disse sobre a redução do peso dos jovens na população e sobre o envelhecimento demográfico do concelho que não consegue, há já várias décadas, repor a população que vai falecendo por insuficiência de jovens. De facto, com mais de 3 idosos para um jovem não é fácil desenvolver este município bem encostado a Serra da Estrela e de que todos gostamos tanto. Em função destes resultados não é demais chamar a atenção para a necessidade de a União Europeia, e sobretudo Portugal, e ainda os seus autarcas se preocuparem mais com as imensas regiões dos países europeus, e também do nosso país, que estão há dezenas de anos a sofrer um esvaziamento de jovens, um acréscimo acentuado da população mais idosa, e consequentemente, uma pressão enorme no sentido do seu esvaziamento humano. E isto em regiões por vezes tão ricas em história e cultura, em património material e imaterial, em recursos agrícolas, paisagísticos, florestais, pecuários e naturais, minerais, energéticos, entre outros, mas que se não lhes for prestada a devida atenção, num prazo relativamente curto, tendem para o seu empobrecimento e a sua progressiva desertificação, com aldeias vilas e até cidades sem vida, com pedaços do seu espaço geográfico ‘mortos eventualmente para sempre. Que assim não seja, são os nossos votos para bem da UE, do país, das regiões, e das suas gentes… 

 

 

 

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