No dia 6 de outubro de 1999 era anunciada ao mundo a morte da maior Diva do Fado em Portugal de todos os tempos. Curiosamente, na diáspora Portuguesa, mais concretamente em Toronto, no Canadá, é celebrado anualmente pelo Município, como bom exemplo, desde 1986 o "Dia de Amália Rodrigues". Canta-se fado em Toronto e ouvem-se poemas e versos que Amália imortalizou para a vida, como por exemplo: "Estranha Forma de Vida".
"Com que voz" é um álbum, que representa a verdadeira obra-prima de Amália Rodrigues, tendo sido editado em 1970, cujo fado, a música é de Alain Oulman e a letra de Luiz Vaz de Camões. Doze composições de Alain que revolucionaram o Fado em Portugal, a verdadeira cereja no topo do bolo na carreira da fadista com raízes longas e "maternas" do Fundão. A nossa fadista desejava um novo sopro e Alain, tendo sido para a fadista maior uma espécie de profeta. Foi devido a ele que se deu a grande viragem no fado no nosso país; significa que Amália Rodrigues deixa os fados tradicionais, os enlutados de dor, de sofrimento de amores, de escuridão, e começa a cantar fados que nos levam a outras dimensões infinitas, os que falam de nós, que canta a nossa alma portuguesa.
É uma realidade, 55 anos depois da edição de sucesso do Álbum "Com que voz" continua a ser ouvido por onde passou, mesmo no Séc. XXI, bem como o "Busto". Aquando essa derradeira mudança recordo que para época foi um descaramento, uma ousadia, isto é, "meter ao barulho" Camões no mundo do fado, uma vez que os fadistas, o fado estavam conotados a ambientes hostis, de prostituição, das tabernas. Era uma sociedade recalcada de sentimentos e de um tradicionalismo sufocante. Diria mais, foi um escândalo os sonetos de Camões serem interpretados por Amália, uma vez que a poesia dita erudita chegou ao fato tardiamente.
Foi a primeira mulher portuguesa a ter honras de Panteão e continua a ser venerada no Japão e deve-se a ela a aprendizagem da língua portuguesa naquele país, entre outros, com o intuito de entenderem os versos que Amália cantou.
Outro poeta, Pedro Homem de Mello escreve “Povo Que Lavas no Rio”, emblemático fado que mais tarde foi cantado por outros artistas, como Dulce Pontes, Mariza e foi banda sonora de uma telenovela da TV Globo.
Amália desafiou a ditadura cantando o fado “Abandono” ou Fado Peniche, que na época não podia. O 25 Abril não soube “amar” Amália e os poetas lá de casa afastaram-se. A amada fadista do povo resistiu, porque o povo, o verdadeiro povo nunca a abandonou. Anos depois continua “Viva” e é celebrada e recordada com a sua luz poética. Passem pelo Panteão Nacional.
Termino, "O dia de Amália" em Toronto como já referido, acontece no dia 6 de outubro, que coincide com a data da sua morte. Pelo Fundão, o dia 6 de julho está associado aos fundanenses, ao dia de batismo de Amália Rodrigues, em 1921 (Igreja Matriz do Fundão). Falta o “Dia de Amália Rodrigues no Fundão”, apenas.