Catarina Soares Martins nasceu no Porto, a 7 de setembro de 1973 e é hoje, provavelmente, uma dais maiores referências políticas à esquerda do Partido Socialista. Atriz de formação, completou um mestrado em Linguística e frequentou o doutoramento em Didática das Línguas. Um percurso académico que se cruza com décadas de intervenção cultural e política.
A trajetória política de Catarina Martins começou através de movimentos estudantis e culturais. Com efeito, foi cofundadora da companhia teatral Visões Úteis e envolveu-se desde cedo em lutas contra a precaridade e pela democratização da cultura.
A sua entrada formal na política representativa deu-se quando foi eleita deputada nas listas do Bloco de Esquerda em 2009. Ao longo da década seguinte, destacou-se na sua atividade política até assumir, em 2012, a liderança do Bloco. Primeiro numa espécie de liderança bifurcada a par de João Semedo e depois como coordenadora. Nessa altura, Catarina Martins ajudou a elevar o partido a desempenhos eleitorais inéditos que a colocaram como um dos principais rostos de esquerda, em Portugal. Em 2024, foi eleita deputada ao Parlamento Europeu, o que marcou a sua transição da vida política nacional para a dimensão europeia da política.
A candidatura presidencial que agora apresenta insere-se nesse percurso. Por outras palavras, procura prestar “cuidados à democracia”, tendo afirmado que a sua candidatura não se define por fronteiras partidárias. Deste modo, pretende abrir espaço a vozes diversas. No lançamento da sua candidatura, e em entrevistas subsequentes tem insistido em colocar temas sociais centrais no coração do debate, como a habitação, a saúde ou a educação. Catarina Martins tem defendido que o Estado não pode falhar nessas áreas e que a presidência tem de ser um motor de defesa dos direitos sociais.
No que diz respeito ao posicionamento político, obviamente que Catarina Martins não se consegue dissociar do Bloco de Esquerda, pelo que defende as suas causas clássicas, como os direitos sociais, o combate à precaridade, a reivindicação de políticas públicas fortes em habitação e saúde, e procura sensibilizar para a emergência climática e justiça ambiental. Ao mesmo tempo, a sua passagem para o Parlamento Europeu e a retórica mais recente reforçam um enquadramento que procura articular causas nacionais com agendas europeias progressistas, colocando-se assim como uma candidata que pretende conciliar a defesa de direitos com uma visão de cooperação multilateral.
Catarina Martins tem uma comunicação geralmente eficaz, com experiência teatral que se traduz numa forte presença mediática e capacidade de discurso consideravelmente empática. Enquanto líder do Bloco, construiu uma imagem combativa sem descurar a parte institucional. É capaz de marcar a diferença em lutas sociais, mas também de dialogar e de se fazer ouvir nas arenas institucionais.
Entre os seus pontos fortes, estão, em primeiro lugar, a comunhão entre a experiência política e uma narrativa credível e que apela, sobretudo às emoções. É autêntica e tem uma forte capacidade comunicacional.
Por outro lado, a sua principal fraqueza reside na leitura política do seu passado e presente partidário. Os eleitores irão sempre associá-la ao Bloco de Esquerda, o que, no contexto atual, irá certamente limitar a sua expressão eleitoral.
Em jeito de conclusão, Catarina Martins apresenta-se como alguém que é capaz de mobilizar movimentos cívicos e sociais à esquerda. O seu principal desafio, que eu adivinho ser intransponível é conseguir alargar a sua base de apoio além dos militantes do Bloco de Esquerda.