Opinião: Pires Manso | Que férias para os portugueses do litoral, interior e emigrantes?
Preferências dos mais e menos jovens, diferenças litoral-interior e emigrantes
Por Jornal Fórum
Publicado em 16/07/2025 07:05
Opinião

Uma imagem com Cara humana, pessoa, vestuário, boné, Picture 

José R. Pires Manso1 

Nesta altura de verão sucedem-se os estudos e sondagens ou inquéritos tentando descortinar para onde vão os portugueses, quais os seus gostos alimentares, quanto esperam gastar, etc.. Trata-se de estudos geralmente centrados nas grandes cidades e um ou outro baseado em inquéritos telefónicos, com amostras geralmente não representativas, e cujas conclusões não se aplicam ao todo nacional. Desde logo, põe-se o problema: quais as opções dos portugueses geralmente não inquiridos residentes nos lugares menos povoados? E será que têm férias? Onde as gozam? 

 

Uma imagem com natureza, ar livre, água, gruta

Os conteúdos gerados por IA podem estar incorretos., PictureUm desses estudos, devido ao Observador Cetelem e recentemente publicado, afirma que sete em cada 10 portugueses tencionam fazer férias no verão em 2025, que esse número representa menos 11% do que no ano anterior e que o valor médio que planeiam gastar será 966 euros mais baixo este ano. Além disso, “o número de portugueses que não tem intenções de gozar férias no verão duplicou em 2025, atingindo os 15%, os viajantes ou turistas nacionais que planeiam fazer férias durante os meses mais quentes do ano, são agora 66%, quando em 2024 eram 77%, mesmo assim um número ainda acima dos valores observados durante a pandemia, entre os anos de 2020 e 2022, que se fixou nos 48%.  

Sobre as causas desta mudança é referido que a principal razão, citada pelos inquiridos, é a falta de condições financeiras, apontada por 43% deles. Também há menos portugueses dispostos a passar férias fora de casa pois são agora, em 2025, apenas 66%, quando no ano anterior, 2024, eram 73%, sendo essa redução justificada com a necessidade de reduzir custos e de controlar melhor os gastos de férias. 

A este propósito, anota-se que em termos orçamentais, os portugueses preveem gastar em média 966 euros nas férias de verão deste ano, um valor que traduz um decréscimo de 4%, ou seja, de cerca de 40 euros, face a 2024, ano em que esse montante foi de 1005 euros. Entre as principais despesas previstas e apontadas pelos inquiridos lusos realce para a previsão de custo da estadia média superior a 475 euros, seguida dos gastos relacionados com a viagem, cerca de 350 euros, dos valores para as refeições, 250 euros, e, do lazer que ocupa o último lugar desta lista, com uma média de 160 euros, o que parece indicar uma intenção de privilegiar os aspetos essenciais das férias em detrimento de atividades complementares” (Obserbador). 

Mas quais os destinos preferidos dos visitantes ou turistas portugueses? 

Há 65% dos portugueses que optam por passar as suas férias em Portugal, isto é, o nosso país continua a ser o destino preferido dos viajantes nacionais, com o Algarve e o distrito de Faro a destacarem-se, sem surpresa, a nível interno, entre as principais preferências. Os restantes 35% dos portugueses preferem viajar para o estrangeiro, sendo o seu destino maioritariamente Espanha, preferido por 35%, seguido de França, referido por 17%, e em terceiro lugar, por Itália com 12% a referirem este destino transalpino e mediterrânico. Os restantes optam por outros destinos que não discriminamos. 

Segundo o Observador Cetelem a escolha do destino de férias é fortemente condicionada por razões económicas, o elemento determinante no processo de decisão para 40% dos nossos conterrâneos. 24% deles, que desejam passar alguns dias com familiares ou amigos, outros ainda preferem momentos de lazer, de cultura, de festivais, e de descanso nesta época do ano, entre outros  

Mas se isto é a grande tendência neste momento, a verdade é que, a percentagem dos que tencionam fazer férias durante o verão de 2025 fica algo abaixo da que se verificava há um ano (2024). Para esta variação negativa contribuem sobremaneira as condições financeiras (salários e pensões) e também o aumento constante de preços nos meses de Verão, os dois fatores mais apontados. Serão estas as razões pelas quais há já um número muito significativo de portugueses a preferirem ir de férias noutras alturas do ano diferentes do verão? Pensamos que sim. 

E para onde vão os naturais e residentes do país profundo, i. é, do interior? 

Uma imagem com touro, chão, bovino, arena de tourada

Os conteúdos gerados por IA podem estar incorretos., PictureOs portugueses naturais e ou residentes das regiões do interior profundo, como portugueses que são e para níveis de educação, cultura e rendimento equivalentes revêm-se mais ou menos na situação descrita para todo o país. Contudo, há elementos que têm alguma influência no destino de férias como seja o facto de viverem no interior, afastado das praias e do litoral, e com as temperaturas mais elevadas nesta altura do ano, o que, natural e logicamente leva muitos dos interior-residentes a procurar em primeiro lugar o litoral mais fresco e onde se localizam as praias refrescantes. Mas se falarmos dos portugueses que trabalham e vivem habitualmente no litoral naturalmente que os seus pais, os mais velhos, se deslocam preferentemente para as suas terras do interior, para as suas casas ou de familiares, um destino mais calmo, e mais ajustado aos níveis de rendimentos de muitos por mais económico. Quanto aos mais jovens desses litoral-residentes certamente que não dispensam alguns dias no litoral refrescante junto de outros familiares e amigos, e só mais tarde vão de encontro aos seus pais e familiares nos seus lugares de origem, onde vão assistir aos festejos e festivais de cerveja, música, capeias e arraiais. 

Mas o interior é também o destino de muitos dos nossos emigrantes, mais jovens, que vêm às nossas terras matar saudades, e que organizam as férias de molde a poderem dar uns mergulhos na costa mediterrânica do Algarve ou do Atlântico. E frisamos, mais jovens, porque os mais velhos ou, preferentemente, os menos jovens, esses, salvo honrosas exceções, vão direitinhos às suas terras ver os seus familiares que por cá ficaram e, simultaneamente, onde assistem aos anuais festejos da terra em honra do santo padroeiro, e também às festas pagãs, como por exemplo as capeias raianas, esta tradicional e curiosa manifestação cultural que desde há uns anos se encontra registada como património imaterial português, e que é, sem dúvida, o maior cartaz turístico das terras raianas do Sabugal, sobretudo, mas também já de Almeida (à semelhança, aliás, de muitas terras espanholas como Pamplona, com as suas largadas de touros e os seus touros de morte, e também francesas da região das Landes, zona de Bordéus, onde há as também muito conhecidas courses landaises, umas corridas com vacas bravas mas imensamente populares nessa grande região) 

Terminamos este apontamento de verão referindo que o contributo destes turistas portugueses, nomeadamente os emigrantes, que visitam o interior profundo, é fundamental para o sustento económico das nossas regiões - cafés, restaurantes e mercearias, mas também supers e hipermercados localizados no hinterland – estabelecimentos que chegam a faturar mais no mês de agosto do que nos restantes 11 meses do ano. Por tudo isso, e pela dinamização económico e social que incutem a estes quase abandonados locais, não restam dúvidas do imenso interesse nas suas visitas anuais, visitas, que, também por isso, os dos seus residentes tanto ambicionam… 


 

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