Opinião: Marcos Leite | Existência ou resistência?
Toda resistência decorre de um ato de violência. Será que isso é verdade?
Por Jornal Fórum
Publicado em 18/12/2025 08:00
Opinião

Chegamos ao final de mais um ano. Continuamos cansados e tristes. Chateados com o mundo ao nosso redor. Há milênios os homens primitivos avançavam na senda da evolução, tal como nós, com a infinita ajuda das tecnologias. Mesmo assim, damo-nos conta do quanto tem sido difícil o exercício da existência humana na Terra. Não é fácil manter-se ativo diante de tantas ameaças, desordens e falta de esperança para com aqueles que deveriam zelar pela vida em sociedade. Pior de tudo é saber que muitas vezes votamos nessas pessoas. Pensamentos assim fazem erigir movimentos anarquistas, porque para existir é preciso, sobretudo, resistir. Um Darwinismo que já poderia ter evoluído, com o perdão do trocadilho.

A resistência é um fenômeno físico. Ocorre quando determinada energia precisa ser canalizada por um ou mais caminhos, mas encontra diante de si, limites que impedem que as coisas possam fluir ao seu bel prazer. É como na alimentação. Quando algo duro, fibroso e denso é ingerido, precisa passar pelo processo da mastigação, sob pena de engasgar, literalmente. Na vida acontecem muitos processos de resistência, até mesmo na hora da nossa morte. E olha que há sempre alguém, que já sem condição alguma, resiste em descansar no sono eterno – e que de sono nada tem – mas isso é assunto para outro dia.

E se resistir é uma forma de existência, é também uma reação decorrente de outra ação. Na antagónica vida social e coletiva que levamos - o individualismo - tão cultuado, aclamado e propagado pelas fontes de consumo, impõe-nos maneiras muito únicas de ver a vida. Padrões. Com isso deixamos de observar o todo, o entorno e não reparamos no que é preciso para - simplesmente - existir. O resultado é este sentimento de ansiedade, que curiosamente é muito comum nesta época do ano: Feliz Natal. Para muitos (muitos mesmo) não há nada de feliz, tampouco de Natal, a não ser no comércio que mais uma vez tenta empurrar-nos goela abaixo um modelo já combalido, que sabemos, não funciona. É o tal do «tanto faz». Entra ano (sem resistência), sai ano, e as pessoas não mudam. Acostumam-se a resistir e esquecem de existir.

Por certo que resistir é da natureza humana. Não há como superar, o que quer que seja, sem esforço. No entanto, a vida poderia ser mais mansa e menos estressante se o individualismo, as crenças (muitas vezes limitantes) e a repetição dos comportamentos pudessem, quem sabe, tirar férias. Sim, como uma vez fizeram no Natal as tropas inglesas e alemãs, no episódio conhecido como  Christmas Truce, no início da primeira Grande Guerra. Baixaram as armas e foram festejar, uns com os outros. Mas não deram-se conta que por trás daquilo tudo, dos dois lados,  havia uma meia dúzia de covardes a criar problemas, guerras e disputas totalmente desnecessárias, às custas da resistência alheia. E nós, cidadãos comuns, será que existimos, resistimos ou simplesmente fazemos o que os outros querem?

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