O Madeiro de Natal é das mais belas tradições Beiroas. É esse fogo que, simbolicamente, arde na Consoada de Natal, mais propriamente na noite de 24 de dezembro e que continua a suscitar um certo enigma. “Ir ao Madeiro” era uma tradição incutida aos jovens mancebos que curiosamente pela calada da noite “roubavam” os carros de bois "estacionados" nas velhas e sinuosas ruas e os troncos que, posteriormente eram orgulhosamente erguidos como troféus nos adros da igreja ou noutro lugar público. Quanto mais alto, melhor. Era uma forma de emancipação dos jovens que “iam tirar o número”, outros tempos.
A tradição do Madeiro é de origem pagã, que remonta talvez aos Celtiberos para comemorarem o solstício de Inverno. Falamos dos rituais do fogo e das fogueiras, que chegam à dimensão de divindade, quase como Ser Supremo, o fogo. Durante o mês de dezembro, as comunidades acendiam grandes fogueiras - o Madeiro. As fogueiras estão intimamente ligadas à vida e à espiritualidade do Homem, como Ser espiritual. É essa luz que representa para os Cristãos a vinda do Menino, o Salvador, que aparece cheio de luz. Significa que o fogo na qualidade de elemento que queima é um excelente purificador, permitindo a tal renovação do espírito, a sua regeneração, que aparece simbolicamente ligado à Páscoa, através de uma viagem que está ao alcance de todos: Adventus (da chegada)/Pascha (à passagem). Segundo consta, o fogo do Madeiro foi adotado pela igreja católica, para mostrar que o calor das fogueiras tinha como objetivo “aquecer o Menino”, a Luz que reside na esperança, no futuro rodeado com raios de sol.
Falando das fogueiras e dos seus rituais e simbologias, não nos podemos esquecer também das tradições juninas, as famosas fogueiras de São João, da Europa, tinham como missão comemorar o solstício de verão. A partir da Idade Média, a cristianização desse ritual foi “apropriada” pela Igreja para celebrar o Dia de São João (24 de junho), de onde surgem as famosas fogueiras de São João. Citando Miguel Torga, o poeta da terra: “E que a grande fogueira da beleza/ Seja o sol duma nova redenção”.
Na Bíblia encontramos inúmeras referências ao fogo, que representam a presença do Espírito Santo: “E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles" Atos 2: 3. Quanto à chama do Madeiro, é uma espécie de Ser Vivo, a verdadeira “alma” do fogo ardente que nos indica prosperidade, continuação.
O desenvolvimento humano surge com o domínio do fogo. Contudo, o fogo, também assume um efeito nefasto e destruidor, que não se deixa dominar, apenas o conseguimos controlar.
Seja como for, por esta altura, um pouco por todo o mundo se venera o fogo e as luzes que iluminam as cidades. A Quadra Natalícia permitir aproximar as famílias, no final de ano, no dia de Reis, no Novo Ano. Nas nossas casas, as lareiras irão acender-se para nos aquecer nestas noites gélidas e longas. Pedimos assim aos Deuses Gregos, mais concretamente a Héstia, à virgem grega do lar que nos conduza nesta grande caminhada. Também pedimos a Apolo, deus do fogo e da luz para que os seus raios purificadores e luminosos nos concedam um ano cheio de fartura e bondade. Espero sinceramente que o fogo do Madeira das Beiras tenha a capacidade de nos devolver a tão desejada liberdade, através do impulso da chama até aos céus. Se me permitirem, termino: “Pela Luz e pela Verdade.”
