A última Assembleia Geral do Sporting Clube da Covilhã marcou um dos momentos mais preocupantes da vida do clube.
Não apenas pela tensão vivida ou pela divergência entre sócios — parte natural da vida democrática — mas pelo que representa em termos de atropelo aos estatutos e, consequentemente, à própria história da instituição.
O Sporting da Covilhã nasceu em 1923 e cresceu sustentado na força dos seus associados, na transparência das decisões e na ética de gestão.
Mesmo nos períodos mais difíceis — das descidas dramáticas às crises financeiras que quase deixaram o clube sem chão — a Assembleia Geral sempre foi um espaço de rigor, debate e legitimidade.
Mas a verdade é que, para além dos problemas estatutários agora vividos, o clube atravessa hoje um dos momentos financeiros mais graves da sua história.
O Sporting Clube da Covilhã apresenta resultados negativos há três anos consecutivos, evidenciando uma incapacidade persistente de inverter o ciclo.
A situação é ainda mais preocupante porque tanto a Sociedade Desportiva como o próprio Clube se encontram em falência técnica, operando sem capitais próprios positivos e acumulando passivos que colocam em causa a continuidade da atividade.
É importante dizê-lo com clareza: o clube só não está formalmente insolvente graças ao património que ainda possui, património esse que funciona como última âncora para evitar a queda completa.
Esta realidade, porém, não pode ser usada como almofada para processos de gestão pouco rigorosos ou para prolongar decisões que apenas empurram o problema para a frente.
É precisamente por isso que o que se passou na última Assembleia não pode ser relativizado.
Numa votação decisiva, apenas foram contabilizados os votos contra — sem que sequer se soubesse quantos eram — e sem que a mesa perguntasse quem votava a favor ou quem se abstinha. Trata-se de uma violação direta dos estatutos e de uma inversão perigosa das regras básicas de qualquer processo democrático.
A partir dessa votação amputada e sem validade procedimental, avançou-se ainda para a cooptação de um Vice-Presidente para Presidente. A cooptação é um mecanismo excecional, destinado a responder a situações urgentes — não a substituir o escrutínio dos sócios.
Quando usada desta forma, deixa de ser uma ferramenta estatutária e passa a ser um atalho político que fragiliza a legitimidade de quem assume a liderança.
Historicamente, o Sporting da Covilhã enfrentou obstáculos que teriam derrubado clubes maiores. Sobreviveu a crises, a limitações estruturais e a dificuldades financeiras severas. Mas nunca atravessou uma crise de identidade. Nunca pôs em causa a centralidade dos sócios. Nunca manipulou uma Assembleia.
É essa fronteira que agora foi ultrapassada — e num momento em que o clube menos podia permitir erros, dada a gravidade da situação económico-financeira.
Uma direção que procura afirmar-se através de processos incompletos e votações irregulares não se fortalece: fragiliza-se. E arrasta consigo o nome e o prestígio de um clube centenário, que sempre se orgulhou da sua autenticidade serrana, da sua resiliência e da sua verdade.
Há momentos em que o silêncio é cúmplice. Este é um deles.
O SCC precisa de transparência, de verdade e de coragem.
Não de truques. Não de encenações.
E muito menos de lideranças impostas por atalho ou omissão.
Quem ama este clube tem obrigação de dizer: basta.
O Sporting da Covilhã merece melhor.
E merece que isso seja dito com toda a clareza.